terça-feira, 2 de novembro de 2010

Isolamento é o mínimo pro Zé! Ele merece o esquecimento. E o ostracismo.

Derrotado, Serra corre risco de isolamento político após campanha errática - 01/11/2010 - UOL Eleições 2010 - Notícias - Geral

Um dos últimos posts que pretendo fazer sobre a campanha eleitoral de 2010.

Este, por sinal, é mais especial ainda porque trata-se de uma análise da campanha serrista e toda a sua gama de preconceitos e apoios dos piores tipos da sociedade brasileira.

Primeiro, porque, desde o começo, a campanha serrista já começou se banhando de preconceitos. Favela cenográfica? Por qual motivo não foram filmar as cenas do clipe em uma favela de verdade? Esta cena foi antológica e já trouxe a tona um dos preconceitos de José Serra: os pobres.

Não estou afirmando que ele não goste de pobres, estou dizendo que soou bem preconceituoso usar uma favela cenográfica para falar de algo que, obviamente, a campanha eleitoral de José Serra esqueceu: que não se segrega pobres de ricos, que não cabe esta polarização em uma campanha eleitoral. Este foi o primeiro preconceito apresentado pela campanha.

Dado que ele não conseguiu levantar e nem se reerguer nas pesquisas, as semanas seguintes ao começo da campanha eleitoral foram muito fracas para José Serra.  Daí, eis que algo aconteceu: na falta de um programa, projeto, proposta ou plano de governo (nunca, aliás, apresentado na campanha), Serra apegou-se a um tema religioso totalmente fora da alçada de um presidente e conseguiu polarizar o debate político, transformando-o em um debate com forte teor religioso.

E eis que finalmente veio a questão do aborto - aqui plantada pela própria esposa de Serra - para o centro do debate político e conseguiu conter o crescimento acelerado de Dilma Rousseff nas pesquisas. Mas foi apenas isto que sua campanha, por sí só, conseguiu.

E, neste momento, a imprensa trouxe consigo este discurso denuncista que marcou todas as semanas entre o final de agosto e o começo de outubro. Nisto, vieram as acusações sobre a quebra dos sigilos de dirigentes do PSDB, da filha de Serra e do próprio candidato. E istou deu outro tom para a campanha da direita: a de acusar sem provas.

Ao longo de setembro, não houve uma semana em que não houvesse uma capa de revista ou reportagem especial dando o tom denuncista a ser usado por Serra nos programas eleitorais.

Serra conseguiu trazer, consigo, todo o modelo do velho político brasileiro que já não encontra espaço no atual cenário político nacional: o que promete mundos e fundos só pra ter votos. A maior parte - senão 100% - do eleitorado sabia que elas jamais seriam cumpridas. Mas, para a campanha, se colar, colou.

Lá pro final de setembro, o tema religioso ganhou força quando alguns líderes religiosos bradaram em seus programas na TV que Marina Silva e Dilma Rousseff eram favoráveis ao aborto. Para enfatizar este discurso, pastores e padres e outros setores conservadores demonizaram o Plano Nacional de Direitos Humanos. Plano este, por sinal, de total desconhecimento por parte destas autoridades.

Ao polarizar esta disputa em um tema fora do alçada do presidente, Serra conseguiu desviar do debate público os interesses que realmente são as principais atribuições de um presidente: o chefe da nação, chefe de estado, o que coordena e gerencia o funcionamento das instituições políticas e públicas do Brasil.

O discurso inflamado de tom religioso de Serra contra o aborto caberia bem se ele fosse um candidato ao Senado ou ao Congresso Nacional - estas sim, casas onde se discutem bandeiras.

Marina, conseguindo consquitar o eleitorado perdido no meio deste debate político de ódio ao PT, conseguiu levar a disputa para o segundo turno. E, acreditem, ela estava certa quando disse que o Brasil precisava de um segundo turno.

No segundo turno, podemos ver então a total falta de um projeto político que José Serra pudesse representar. Sua campanha neste momento foi centrada no embate direto de bater na candidata do PT. Serra usou todo o tom denuncista e hipócrita do primeiro turno e, na primeira semana, conseguiu expressiva mudança nas pesquisas fazendo o PSDB até falar em transição.

O que marcou a grande virada de Dilma Rousseff nesta eleição foi o debate da Bandeirantes, onde, pela primeira vez, pudemos ver o posicionamento de Dilma como nome forte, como a candidata que não foi apresentada no primeiro turno. E foi aí que a campanha virou: Dilma mudou o debate político ao mencionar que a campanha religiosa e os insultos haviam partido da esposa de Serra, que o candidato também tinha muito a explicar, especialmente sobre a denúncia do próprio PSDB de que Paulo Preto havia sumido com dinheiro de campanha. E, claro, conseguiu colar em Serra a imagem de privatista e mostrar para o Brasil que foi ele o único candidato a autorizar via SUS procedimentos abortivos.

E foi aí que encerrou-se qualquer chance de vitória para Serra. Ao acusar Dilma de todas as maneiras, tentando colar-lhe a imagem de ex-guerrilheira e desqualificando as conquistas do governo Lula, Serra conseguiu também mostrar ao eleitorado que ele era oportunista pois, no primeiro turno, ele usou e abusou da imagem de Lula e rasgava elogios a Lula.

Outra coisa que se virou totalmente contra Serra foi a revelação de que as quebras de sigilo haviam partido do próprio PSDB, que eram um 'fogo amigo' de disputas internas que remontam as campanhas internas entre Aécio e Serra para a candidatura oficial. A imprensa, por sua vez, tentou desconversar e desacreditar a Polícia e tentou colar estas denúncias, mais uma vez, a candidatura de Dilma. O que, provou-se depois, foi um tremendo erro por parte da imprensa. Outro episódio mais emblemático ainda foi o da bolinha de papel, o que, certamente, fez Serra perder milhares de votos pois, claramente, não havia nenhum outro objeto. A tentativa da Globo e da velha imprensa em provar esta versão soou bem apelativa e fora de sentido.

Caminhando nas últimas semanas de outubro, já combalido pela própria campanha e falta de projetos, não restou muito a Serra a não ser ficar na defensiva e desconversar, enrolando e fugindo do debate de propostas, mostrando-se oco e vazio, sem nada que lhe desse alguma consistência para o discurso de um candidato a presidente. Sua falta de discurso político também trouxe a tona um candidato machista e conservador, o que, efetivamente, pegou muito mal. Suas grosserias para com Dilma foram, sem dúvida, o final derradeiro da campanha.

Sem poder apegar-se ao discurso do aborto - dado que ele também chegou na própria esposa de Serra através de suas ex-alunas que confirmaram o aborto realizado pelo casal no Chile - e sem poder atacar com as denúncias da Casa Civil, José Serra não tinha mais pra onde correr.

No último debate, o da Globo, foi visível como ele jogou a toalha e que sabia que não podia mais virar o jogo a seu favor. O único debate de propostas da campanha - e justamente na maior representante da velha imprensa - foi o que colocou a pá-de-cal na campanha serrista. Até aquele momento, Serra não havia falado de nenhum programa de governo. Como não tinha, ele não podia mais fugir.

Mesmo assim, seu discurso final reconhecendo a derrota para Dilma foi lamentável. Primeiro, por haver acontecido após o de Dilma. Segundo, por continuar a incitar o clima divisionista e separatista ao qual sua campanha recorreu ao priorizar o Sul-Sudeste e esquecer do Norte e Nordeste. Enquanto Dilma falava sobre a união, a erradicação da miséria, os preconceitos contra a mulher, José Serra falava de um de uma maneira deselegante, autoritária e totalmente fora do que se espera de um candidato nestas condições.

Como seu estilo amplamente desagregador e cheios de desafetos dentro do próprio PSDB, Serra terá o isolamento político pela frente. E, por certo, perderá vários apoios, muitos em escala regional. Só que o isolamento político é pouco. Ele merece o esquecimento e o ostracismo político por haver sido o candidato com a campanha mais suja já realizada até hoje.

A resposta das Urnas e do Brasil foi dada e foi bem clara: ninguém quer José Serra presidente. Nem agora, nem em 2014 e nem em qualquer outro momento.

Aquele momento político da direita já passou. E ela, por sinal, sai mais enfraquecida da disputa.

Quase uma nanica.

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