publicada sábado, 07/03/2009 às 13:52 e atualizada domingo, 06/06/2010 às 22:31
No dia 9 de dezembro de 1969, a jornalista Rose Nogueira estava presa no DEOPS de São Paulo, sob a guarda do delegado Fleury - conhecido assassino e torturador.
No mesmo dia 9 de dezembro de 1969, a “Folha de S. Paulo” demitiu Rose por “abandono de emprego”. Parece uma piada de mau gosto. Mas aconteceu.
A história de Rose – que foi presa em São Paulo, no dia 4 de novembro de 1969 – já era conhecida, graças ao belíssimo artigo que ela publicou no livro “Tiradentes, um presídio da ditadura”; artigo que foi reproduzido esta semana pelo Azenha: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/rose-nogueira-a-prisao/.
Mas, nada como observar as provas materiais. Por isso, reproduzo agora a ficha de Rose Nogueira, no Departamento Pessoal da “Folha”, mostrando até que ponto ia o jornal dos Frias em sua parceria com a ditadura.
Reparem abaixo que uma outra ficha do jornal traz anotações à mão.
Veja, no detalhe: Rose teria direito a licença-maternidade de 90 dias. Segundo o jornal, a licença teria vencido no dia 10/11/69 (data, aliás, que está rasurada).
Ou seja, a licença terminou quando Rose já estava presa (e sob tortura) há 6 dias.
O que a família Frias queria? Ela deveria continuar trabalhando de dentro da cadeia? Talvez, com um bloquinho na mão devesse obter uma entrevista exclusiva com Fleury?
Todo mundo sabia que Rose estava presa. A “Folha”, na época, não procurou a família de Rose pra saber se a jornalista precisava de ajuda. Esperou apenas a data conveniente para demiti-la. E era uma funcionária do jornal que – ao ser presa – tinha dado à luz há 33 dias apenas.
Rose diz que o dia oficial da demissão - 9 de dezembro – coincide com o período das piores torturas no DEOPS. Em fase pós-parto, ela sangrava abundantemente. Mesmo assim, foi impedida pelos torturadores de tomar banho durante mais de 30 dias. Dos seios, brotava o leite, que ela não podia dar ao filho. Isso irritava os policiais, que a agrediam constantemente.
“O mais violento deles, o mais tarado, era um policial de nome Tralli. Uma tarde, ele me deixou toda roxa, com uma sessão interminável de beliscões. Não perguntava nada, não queria informação. Era sadismo puro”.
Quando leu o editorial da “Folha”, em que o jornal qualificou a ditadura brasileira de “ditabranda”, Rose diz que pensou: “alguém ali na Barão de Limeira enlouqueceu de vez”.
Conversei ontem (6/3/2009) com a jornalista. Perguntei se ela iria à manifestação em frente à “Folha”, contra a tentativa do jornal de reescrever a história do Brasil. “Não. Eu fico meio sem graça, sou jornalista. Não gosto de virar personagem de notícia”.
Tudo bem, Rose. Entendo. Mas, dessa vez, você virou – sim – personagem. De uma história escabrosa.
História (mais uma) vergonhosa para a “Folha”. História didática, a mostrar o passado de um jornal que cresceu à sombra dos ditadores.
Rose tem orgulho do passado; família Frias pode dizer o mesmo?
Enquanto a “Folha” tenta esconder o passado, Rose tem orgulho de sua história. Na parede da sala, mostra a foto de 40 anos atrás, quando era militante estudantil, e simpatizante dos comunistas.
Não é só um quadro na parede. Rose segue militante. Hoje, luta pelos Direitos Humanos. Segue como voz importante a denunciar abusos e torturas da polícia contra o povo simples da periferia.
“Vivo bem, vivo em paz, vou ser até avó. Luto pelo que acredito. Não quero vingança, não tenho raiva, mas acho que a “Folha” deve um pedido de desculpas ao povo brasileiro”.
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Aqui, você fica sabendo por que o episódio “ditabranda” doeu no bolso da família Friashttp://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/doi-no-bolso-folha-ja-perdeu-2-mil-assinantes-diz-blog.
E, aqui, um sinal de que o caso provocou fissuras na direção do grupo “Folha”http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/ditabranda-grupo-folha-tenta-limpar-a-barra-no-uol.
Comment: Alguém que defendeu o regime não pode, sequer, dar-se ao luxo de desqualificar quem lutou contra ele. Dilma não tem nada a esconder. Folha e Zé, sim.
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